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O mercúrio está presente na maioria dos peixes da bacia amazônica |
O uso do mercúrio em atividades de lavras
garimpeiras é mais comum do que se imagina. E em algumas regiões do Brasil,
principalmente naquelas onde falha acentuadamente a fiscalização pelas grandes distâncias e falhas , a presença do
metal pesado acaba redundando em doenças de todos os tipos, sem que os
intoxicados se deem conta da origem de seus males.
E o que se observa em algumas pesquisas é a detecção
cada vez mais evidente de pessoas com males advindos do mercúrio. E a região Norte
do Brasil é uma das mais afetadas.
As populações ribeirinhas do rio Negro, no norte do
Amazonas, estão expostas à contaminação por mercúrio num nível superior ao
tolerável à saúde humana, aponta estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia.
A contaminação ocorre pela ingestão prolongada de
peixes piscívoros, como tucunaré e piranha. Essas espécies concentram mais
mercúrio porque comem outros peixes, também intoxicados.
Os
sintomas incluem problemas neurológicos e perda da coordenação motora.
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Maria Alberta do Nascimento prepara peixe em Barcelos, AM |
A pesquisa foi feita em 2011 com mechas de cabelo
de 50 pessoas, de 14 comunidades, e apontou uma concentração de mercúrio de
3,14 ppm (partes por milhão) a 58,35 ppm durante o ano. Os níveis mais altos
foram registrados de novembro a maio, quando o consumo de peixes é maior.
A Organização Mundial da Saúde considera tolerável
uma taxa de 50 ppm para a população em geral e 10 ppm para grávidas.
Segundo a bióloga Graziela Balassa, 32, autora do
estudo, a situação das mulheres em idade reprodutiva é a mais preocupante: 85%
delas apresentaram concentrações de mercúrio superiores a 10 ppm. "É um
nível que aponta efeitos neurológicos em fetos", afirma.
Balassa diz que são necessárias campanhas que
orientem as mulheres a consumir menos peixes piscívoros durante a gestação e a
amamentação. Ela defende a proibição de garimpos na bacia do rio Negro --a
atividade foi regulamentada em junho pelo governo do Amazonas.
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Maria Ivanete de Souza Andrade, 29, e Genizes da Silva Benfica, 34, que moram em Bacabau, a duas horas de barco de Barcelos |
O solo do rio Negro é naturalmente rico em
mercúrio, mas o garimpo de ouro e a atividade industrial fazem com que as
chuvas despejem três vezes mais metal no rio hoje do que há cem anos, segundo
Bruce Forsberg, orientador do estudo.
Na água, bactérias transformam o mercúrio em sua
forma mais tóxica, o metilmercúrio, iniciando um processo de contaminação que
atinge micro-organismos, plantas e peixes.
A reportagem visitou 3 das 14 comunidades
pesquisadas e constatou que peixes piscívoros são consumidos do café da manhã
ao jantar.
A índia baniua Maria Ivanete Souza Andrade, 29, tem
dois filhos e cedeu mechas para o estudo. "A alimentação que a gente tem é
peixe, é difícil comer carne."
Em Bacabau, a duas horas de barco de Barcelos, no
rio Araçá, o agente de saúde Evanildo Martins, 49, não sabe quais os danos do
mercúrio à saúde nem como tratar pessoas contaminadas. A última vez que um
médico passou por lá foi em 2006.
Em Samaúma, no rio Demini, a professora baniua
Marinete dos Santos, 41, mãe de quatro filhos, se diz assustada. "Se tem
mercúrio na água e no peixe, também contaminou a gente."
Fonte: Katia Brasil da Folha de São Paulo – Edição de 02.10.12
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