30% é o índice de depressão pós-parto em hospitais públicos |
Estudo realizado na Universidade de São
Paulo (USP) demonstrou uma prevalência de 28% de depressão em mulheres que
deram à luz em um hospital público. O índice é pelo menos duas vezes maior do
que o descrito pela literatura mundial, que varia de 10% a 15%. O índice é pelo
menos duas vezes maior do que o descrito pela literatura mundial, que varia de
10% a 15%. Foram avaliadas também a ocorrência do transtorno em 268 mulheres
que tiveram filhos em um hospital privado e a taxa ficou abaixo até mesmo da
média mundial, com 8% de prevalência.
A pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto
de Psicologia e pela Faculdade de Medicina com gestantes que fizeram o
pré-natal em unidades básicas de Saúde, no bairro do Butantã, e o parto no
Hospital Universitário da USP.
A análise das estatísticas dos dois
hospitais mostrou um conjunto de fatores considerados de risco para a depressão
pós-parto. Entre eles, estão a ocorrência de depressões anteriores, qualidade
da relação com o parceiro, o apoio social e os anos de escolaridade.
— Os fatores apontados devem ser
interpretados dentro de um contexto mais amplo. Contudo, as mulheres atendidas
no hospital público apresentaram maior número de fatores de risco —
esclareceram as coordenadoras do projeto Emma Otta, Vera Sílvia Bussab, Maria
de Lima Salum e Morais.
As pesquisadoras Emma Otta e Vera Sílvia Bussab |
Nas duas amostras, os recém-nascidos
apresentaram condições de saúde semelhantes. A idade da mãe, a escolaridade, o
número de visitas pré-natal e de cesarianas foram maiores entre as mães do
hospital privado.
As mães e os filhos foram acompanhados nos
três anos após o nascimento com objetivo de identificar as interferências da
depressão no desenvolvimento cognitivo das crianças. A pesquisa mostra que,
embora as mulheres com depressão pós-parto tenham se considerado piores mães,
isso não interferiu significativamente na interação deles.
— Elas relatavam que o bebê dava mais
trabalho, que tinham mais dificuldades nos cuidados com a criança, que eram
mais impacientes e que dedicavam menos tempo ao filho — explicam as pesquisadoras.
Já no quarto mês de vida, observadores
externos perceberam que as mães com sinais de depressão pós-parto conversavam
menos com os bebês, especialmente quando já tinham outros filhos, e também que
os filhos procuravam menos o olhar materno. Nessa fase, no entanto, não houve
diferença significativa, contudo, em outros comportamentos interacionais nem
motores.
Algumas mães dedicavam menos tempo aos filhos |
Aos 12 meses, por outro lado, os filhos de
mães depressivas apresentaram pior desempenho em tarefas de desenvolvimento
motor, mas mostraram melhor desenvolvimento da linguagem oral.
Para as pesquisadoras, isso pode ser
justificado pela maior
necessidade de as crianças exibirem
comportamentos que chamem atenção de outras pessoas. Por meio da análise de
vídeos, também foi possível perceber nessa fase que as crianças exploravam
menos o ambiente, manipulavam menos os brinquedos e apresentavam mais
movimentos repetitivos na interação com uma pessoa estranha.
Foram feitas análises ainda aos 24 meses e
aos 36 meses. Com 2 anos, foram avaliados a empatia e os comportamentos sociais
do bebê. Em uma situação experimental, o pesquisador simulou estar desapontado
e a maior parte das crianças, independentemente da condição materna, tentou
ajudá-lo. Aos 3 anos, foram mais frequentes os casos em que filhos de mulheres
depressivas ignoraram as solicitações da mãe.
O estudo mostra que alguns fatores atenuam a
influência da depressão materna sobre o desenvolvimento da criança. Em relação
às mães, entre outros fatores, são importantes o apoio do parceiro e da
família. Por parte da criança, fatores como temperamento, resistência ao
estresse, tempo com a mãe, entre outros, podem ser responsáveis pela variação
comportamental, segundo o estudo.
A atenção da mãe impacta na variação comportamental |
As pesquisadoras destacam ainda que medidas
simples podem ser úteis para diminuir o impacto do transtorno. Uma delas seria
adotar uma ficha de atendimento das gestantes com informação sobre ocorrência
de episódios anteriores de depressão.
Outra estratégia seria o rastreamento de
indicativos do transtorno durante a gestação ou ainda no primeiro mês após o
parto.
— Isso permitiria o encaminhamento dessas
mulheres para o tratamento do transtorno e, adicionalmente, permitiria planejar
o acompanhamento delas com mais atenção— propõem.
A capacitação permanente dos profissionais
de saúde pública sobre a depressão pós-parto também é considerada uma medida
fundamental.
Fonte: Zero Hora - Caderno Bem-Estar - 15/10/2013
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