Aprovação do Ato Médico, mesmo com vetos, foi comemorada |
Após
11 anos de tramitação, a Lei do Ato Médico foi aprovada pelo Congresso na
última quarta-feira (28). Além da longa tramitação para ser ratificada, a norma
também sofreu forte resistência de profissionais de outras áreas da saúde que
se sentiram ameaçados de terem o seu campo de atuação invadido. Por essa razão,
a aprovação da lei com a manutenção dos vetos presidenciais em pontos que
geraram polêmica foi comemorada por diferentes categorias como psicologia,
enfermagem e biomedicina.
O item
da lei que mais causava incômodo entre os profissionais de outras categorias
estava no artigo 4°, que teve nove pontos vetados, entre eles o inciso 1°, que
atribuía exclusivamente aos médicos a formulação de diagnósticos de doenças. No
campo da psicologia, por exemplo, os profissionais não poderiam mais
diagnosticar transtornos mentais, conforme explica o conselheiro do
Conselho Federal de Psicologia (CFP), Celso Tondin.
Tondin
ressalta a importância da manutenção dos vetos. “A manutenção dos vetos foi
positiva para o desenvolvimento das políticas de saúde do país, visto que
garantiu o exercício da medicina ao mesmo tempo que o exercício das demais
profissões da saúde. As profissões têm hoje preservadas a sua autonomia, além
de garantir as políticas públicas vigentes no SUS”, celebra.
Outros
artigos vetados diziam respeito à indicação de próteses e órteses e até a
aplicação de injeções. Ao justificar a razão do veto relacionado à
aplicação de injeções, o governo explicou que condicionar o procedimento à prescrição
médica pode causar impacto no atendimento dos estabelecimentos privados e nas
políticas públicas do SUS, como as campanhas de vacinação.
Os
enfermeiros, que possuem a aplicação de injeções como uma de suas atribuições,
também comemoraram a permanência dos vetos. Logo após a maioria dos 458
deputados e 70 senadores, que participaram da sessão da última quarta-feira
(28) acatarem os vetos do Palácio do Planalto o Conselho Federal de Enfermagem
(Cofen) divulgou nota afirmando que “os parlamentares tomaram o remédio da
lógica e da razão”. O presidente da entidade, Osvaldo Albuquerque, destacou que
deputados e senadores “votaram em favor do modelo de saúde consolidado como o
melhor do mundo, ao favorecer a integralidade da saúde nos princípios da universalidade
e equidade, respeitando a multidisciplinaridade e o cuidado interdisciplinar”.
A
biomedicina foi uma das categorias que se posicionou criticamente ao Ato
Médico. Situados numa área de intersecção entre a biologia e a medicina,
os biomédicos reivindicavam o direito de continuarem realizando os exames
anatomopatológico e citológico, que buscam identificar doenças através da
retirada de tecidos e células do corpo, respectivamente.
Também
em comunicado, os biomédicos demonstraram satisfação com o desfecho da lei.
“Mais do que representar o poder de voz das mobilizações, os vetos da
Presidente Dilma, aceitos pelos congressistas, significam um sonoro ‘não’ ao
retrocesso de pensamento. Revelam a consciência de que o bem-estar físico
e emocional das pessoas demanda um intrincado de ações (procedimentos técnicos
e comportamento gerencial) integradas dos profissionais que compõem o sistema
de atendimento à saúde, seja do ponto de vista da prevenção, do tratamento ou
da reabilitação”, diz a nota.
Procedimentos invasivos
Rogério Wolf: "A avaliação sobre a conclusão do Ato Médico é mais positiva do que negativa" |
Outro
aspecto contestado do projeto que acabou sendo vetado era o de limitar aos
médicos a realização de procedimentos invasivos. Nesse caso, o governo
justificou a sua ação, pois entendeu que essa determinação da lei colocaria a
acupuntura como serviço privativo dos médicos. Outro veto significativo foi do
artigo que dizia que seria função exclusiva da classe médica ocupar cargos de
chefia e direção de serviços médicos. O governo alega que carece de definição o
termo “serviços médicos”.
Entre
os trechos da norma mantidos estão os que cabem apenas às pessoas formadas em
medicina a indicação e intervenção cirúrgicas, além da prescrição dos cuidados
médicos pré e pós-operatórios; a indicação e execução de procedimentos
invasivos, sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, incluindo acessos
vasculares profundos, as biópsias e as endoscopias. Também será de
exclusividade médica a sedação profunda, os bloqueios anestésicos e a anestesia
geral.
Durante
o tempo em que acontecia a discussão em relação à lei que regulamentava a
medicina, os médicos sustentavam a posição de que a norma não avançaria sobre
outras áreas e que possuíam o direito de organizar a única profissão carente de
uma regulamentação nacional na área da saúde. Para o presidente do Conselho
Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Rogério Wolf de Aguiar,
atualmente, a avaliação sobre a conclusão do Ato Médico é mais positiva do que
negativa.
“Foram
vetados alguns itens da lei, mas a relação do exercício da medicina com as
demais profissões de saúde que estavam se opondo a regulamentação da lei não
mudou. Nada foi acrescentado às demais profissões da saúde. E aquilo que os
médicos vêm fazendo como diagnóstico e prescrição de medicamentos segue como
era antes. Então resta uma avaliação de que os médicos não tinham uma lei e
agora tem”, analisa Aguiar.
No
entanto, o presidente do Cremers não esconde a frustração com a manutenção dos
vetos. “A avaliação no primeiro momento foi de muita decepção pela
manutenção dos vetos, uma vez que poucas semanas antes o próprio Senado tinha
acabado de aprovar um projeto de lei quase que por unanimidade depois de 11
anos de tramitação. Agora, depois de um mês, mantém vetos da presidência de vários
itens, voltando atrás de tudo aquilo que tinha passado por diversas comissões.”
Fonte: www.sul21.com.br acesso em 29.08.2103
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