Dados do
Ministério Público do Trabalho (MPT) mostram que casos de trabalhadores da
construção civil flagrados em situação análoga à de escravidão vêm crescendo de
"forma preocupante" no Estado de São Paulo. Apenas em 2012, nas
operações que contaram com atuação do MPT, 140 pessoas foram encontradas nessa
situação.
"Na
construção civil, certamente, a cada ano está ficando pior. Não existiam
situações no passado, era quase inimaginável. Agora, está se tornando
permanente, comum. Isso nos preocupa demais", diz o procurador da
Coordenadoria Nacional de Erradicação de Trabalho Escravo do MPT, Rafael de
Araújo Gomes.
Construção civil: maior concentração do trabalho escravo |
Em abril,
o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o MPT em Bauru, interior de São
Paulo, constataram que a construtora Croma mantinha 50 trabalhadores em
situação análoga à escravidão em obras de um conjunto habitacional na cidade
paulista de Bofete. A empresa foi contratada pela Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU).
Procurada,
a construtora Croma disse que concordou em assinar um Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC) com o MPT para quitar os débitos trabalhistas com os 50
funcionários. A empresa se comprometeu também a pagar todos os salários
atrasados aos empregados, assim como indenizações individuais no valor de R$
500 para cada migrante encontrado em situação irregular.
Em maio,
fiscais do MTE flagraram 90 trabalhadores em condição análoga à de escravidão
em uma obra do Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, no
município de Fernandópolis, também em SP. A empresa Geccom, responsável pelo
empreendimento, foi autuada por diversas irregularidades, como jornada de
trabalho de até 15 horas, emprego de trabalhadores sem registro em carteira,
alojamentos em situação precária e falta de equipamentos de segurança.
Empresas assinaram Termo de Ajustamento de Conduta - TAC |
A empresa
providenciou a rescisão de contrato dos empregados, pagou as verbas
indenizatórias e os salários devidos. O advogado da Geccom, Shindy Teraoka,
disse que a empresa irá comprovar ao MTE que os trabalhadores não estavam em
condição análoga à escravidão e que já acertou todos os débitos com os
empregados.
De acordo
com o procurador Gomes, com a "explosão" do crédito imobiliário,
especialmente devido a programas do governo federal como o Minha Casa, Minha
Vida, algumas construtoras buscam firmar o maior número de contratos possível,
sem ter condições de realizar as obras.
"As
empresas não sabem como vão contratar, qualificar e dar andamento a essas
obras. Se vão ter funcionários suficientes ou não. Aparentemente está ocorrendo
isso. Uma ganância de fechar a maior parte de contratos, assegurar os recursos
e só depois se preocupam se vão conseguir entregar o imóvel. E não
conseguem", destaca.
Ishikawa: vice-presidente do Sinduscon |
De acordo
com o vice-presidente de Relações Capital-Trabalho do Sindicato da Indústria da
Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Haruo Ishikawa, há
falta de mão de obra no setor, o que leva empreiteiras a subcontratar empresas
não qualificadas para fornecer os trabalhadores.
"São
os subempreiteiros contratados que estão praticando isso. Estamos sugerindo
para as empresas que, ao contratar o subempreiteiro, verifiquem realmente as
condições de trabalho apresentadas", destaca. "A responsabilidade
também é da empresa contratante, que é a empresa construtora principal",
acrescenta.
De acordo
com o vice-presidente, o Sinduscon está fazendo uma campanha com seus
associados para coibir a situação análoga à escravidão, além de incluir a questão
no acordo coletivo do setor. "Da nossa convenção coletiva de 2009 para
frente, nós, preocupados com essas questões da contratação de mão de obra,
colocamos na Cláusula 10 a maneira como as construtoras deverão contratar as
subempreiteiras: verificando todos os itens regulares regidos pela CLT",
destaca.
Segundo o
MPT, no ano passado, em todo o país, foram resgatados 2.428 trabalhadores em
situação análoga à escravidão. Até março deste ano, os fiscais resgataram 339
trabalhadores. O coordenador da Campanha Nacional de Combate ao Trabalho
Escravo, vinculado ao Ministério Público do Trabalho, frei Xavier Plassat,
estima que, no país, haja de 20 mil a 50 mil pessoas exercendo atividades em
condições análogas à escravidão.
Fonte: Agencia Brasil
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